quinta-feira, novembro 20, 2008

O QUADRO DE PANO

Oi pessoal, essa semana eu contei para alguns alunos uma historinha... Contei de maneira resumida e adaptada. Não contei em todas as salas... Mas resolvi vir até o blog e colocar a versão completa deste conto tibetano. Sua origem é bem antiga e seu autor é desconhecido.
Espero que gostem! Espero que pensem um pouco sobre ela.

O QUADRO DE PANO
Conto tibetano, autor desconhecido

Era uma vez, em uma região árida no pé das montanhas uma pobre viúva que tinha três filhos. O maior não prestava para grande coisa e tão pouco o segundo. O caçula que era filho carinhoso e trabalhador que sempre procurava ajudar a mãe no que podia. A mãe ficava tecendo o dia todo. Levava seus tecidos prontos para a feira de uma cidade vizinha, recebendo em troca dinheiro suficiente para comprar comida para ela e para os filhos. O caçula costumava catar lenha em uma floresta próxima, enquanto os outros dois irmãos ficavam espreguiçando-se ao sol, esperando que mãe providenciasse comida. Um dia mãe acabou de vender seus brocados um pouco mais cedo que o de costume e foi então dar uma volta pela ferira. Seus olhos pousaram numa linda tela pendurada numa loja. Era um quadro reproduzindo uma montanha parecida com a que havia atrás de sua aldeia. Só que perto dela, em vez de cabanas pobres, havia um grupo de lindas casas limpinhas. Entre elas, a mais bonita, era uma casa de andares, situada no meio de um jardim atravessado por um riacho prateado que formava um pequeno lago no qual se agitavam peixinhos vermelhos. Aves de galinheiro ciscavam aqui e acolá e belas ovelhas brancas pastavam nas ladeiras das montanhas. Campos de milhos dourados se estendiam a perder de vista. Culminando esta tela idílica, havia no topo da montanha, um grande sol de fogo. A mãe ficou pasma com a beleza do quadro e não se cansava de olhá-lo. Tirou todo o dinheiro que tinha no bolso e que acabara de receber pelos próprios tecidos e comprou o quadro. “Só uma vez”, pensava, “não será tão terrível. Na próxima vez comprarei alguma coisa melhor para os meus filhos”. No caminho, parava de vez em quando para desenrolar o quadro e admirá-lo. Como as casas brilhavam! Como o riacho cintilava! Tendo até impressão de que podia sentir o perfume das flores que embelezavam o jardim. Nunca tinha se sentido tão feliz em toda a sua vida.
Em casa, a mãe pendurou o quadro perto da porta. Não conseguia tirar os olhos de lá. Os dois filhos maiores resmungaram e acharam ridículo gastar tanto dinheiro só para comprar um quadro. Mas o caçula declarou: “Gostaria que você tivesse uma casa parecida com a desse quadro, mamãe. Com um jardim igualzinho. Se eu fosse você, teceria um quadro de pano usando esse aqui como modelo. Enquanto você estiver tecendo a casa, as flores, o riacho e as galinhas, você terá a impressão de já ser dona de tudo isso.”
– Não fique pondo essas idéias na cabeça da mamãe! Se ela começar a tecer por prazer onde é que nós vamos encontrar dinheiro pra viver?”
– É claro, se a mamãe quer viver como uma grande dama, que espere pela outra vida.
No entanto, a idéia do filho caçula a seduzia.
– Não temam meus filhos, que eu vá prejudicá-los. Vou tecer à noite e de manhazinha para meu prazer e o resto do dia para alimentá-los. Até agora alimentei vocês e vou continuar fazendo.
Então, ela comprou os fios mais lindos e se pôs a tecer.
A mãe passou um longo ano, sentada, tecendo. De noite acendia uma tocha cuja fumaça provocava lágrimas em seus olhos. Uma a uma, as gotas cristalinas caiam sobre o pano que estava tecendo e ela, as ia incorporando ao quadro. Foi assim que teceu o lago e o riacho, com suas lágrimas. No segundo ano os pobres olhos da mãe estavam tão irritados que até sangravam, e eram lágrimas vermelhas que caiam sobre o brocado. A mãe as ia incorporando ao quadro, tecendo flores vermelhas e o sol, que iluminava o céu. No terceiro ano o quadro estava terminado. Continha tudo o que estava no modelo: uma região cheia de verduras no pé da alta montanha, casinhas que pareciam de prata, campos de milho dourado, jardins com legumes, árvores frutíferas, arbustos floridos, e, na beira da aldeia, no lugar da pobre cabana da mãe, havia uma grande construção, com colunas vermelhas, portas amarelas e telhado azul. Atrás da casa, nas ladeiras verdes da montanha, pastavam ovelhas, búfalos e vacas. Pintinhos amarelos e patinhos brincavam na grama e pássaros cruzavam o céu em vôo rápido. Em primeiro plano havia um jardim cheio de árvores e flores brilhantes e no centro um laguinho com peixinhos vermelhos. Um riacho prateado atravessava os campos de arroz. Atrás da aldeia, havia campos de milho dourado e, bem acima, um sol de cobre que brilhava num céu azul.
A mãe enxugou os olhos avermelhados e exibiu um sorriso de satisfação.
– Venham ver como está bonito, meus filhos!
– Quanto dinheiro dariam por isso, heim. Se você o vendesse... – disse o filho mais velho.
– Por uma coisa assim você poderia ganhar uma bela soma! – completou o do meio.
– A nossa mãe construiu uma casa de seda para nós, vamos contemplá-la! Vivemos nela em pensamento!
– Teci este quadro para o meu prazer e não quero vendê-lo, mas aqui na penumbra não se enxerga muito bem tudo o que há nele. Vamos levá-lo para fora, para a luz do dia.
A mãe pendurou o quadro fora da casa e todas as cores ficaram mais intensas. Lá, à luz do dia, é que se podia ver realmente o quanto era bonito o quadro. Os vizinhos vieram admirá-lo e cada um cumprimentava a mãe que sorria de felicidade. De repente, ela sentiu no rosto a carícia de uma brisa leve. O pano de seda balançou. Um vento mais forte o sacudiu como um tapete do qual se tira o pó, e por fim, ele foi arrancado da porta de onde estava pendurado. Num instante, o quadro saiu voando pelos ares. A mãe deu um grito e desmaiou. Os filhos procuraram por toda redondeza, mas ninguém encontrou o quadro de pano da mãe.
Depois do sumiço, a mãe começou a vagar como uma alma penada. O caçula tentava consolá-la como podia, preparando sopas de gengibre, mas a mãe ia definhando rapidamente. Depois de algum tempo, a mãe falou para o filho mais velho:
– Filho, se você quer que eu viva, vá procurar o meu quadro de pano e o traga de volta. Sem ele é como se eu tivesse perdido uma parte da minha vida.
O filho calçou suas sandálias e saiu em direção ao leste. Andou meses a fio até chegar a um desfiladeiro onde havia uma casinha de pedra. Na frente da casa havia um cavalo esticando pescoço em direção a uns morangos.
– Por que o cavalo não come os morangos? Por que será que ele fica assim esticando o pescoço e de boca aberta?
Ao se aproximar constatou que o cavalo era de pedra. Ficou muito surpreso com isso. Enquanto estava lá, contemplando o cavalo, estarrecido, uma velha sorridente saiu da casa de pedra.
– O que você está procurando, meu filho?
– Eu estou procurando um quadro de pano que nossa mãe teceu. Nele tinha... minha mãe tinha reproduzido um paisagem... uma casa, um riacho, um jardim, aves, o sol, flores... Olha, pra ela fazer este quadro não comemos bem durante anos. Mal ela acabou de tecê-lo, o vento o levou Deus sabe pra onde. Mamãe me pediu para procurá-lo. Por acaso não sabe onde ele está?
– Sim, sei. Foram as fadas da montanha ensolarada que pegaram emprestado o quadro. Querem usá-lo como modelo para tecerem um brocado igualmente bonito.
– Fico feliz em saber para onde dirigir meus passos para reencontrá-lo. A senhora poderia me indicar o caminho da montanha ensolarada? Quero ir logo lá, assim vou ficar tranqüilo.
– É fácil dizer, mas difícil de realizar. Só se pode chegar lá montado neste cavalo aqui.
– Mas este cavalo é de pedra!
– Pouco importa. O cavalo voltará à vida assim que você implantar seus dentes nas gengivas dele, para que ele possa comer os morangos. Se você quiser, eu te ajudo a arrancar seus dentes com aquela pedra. Mas isso não é nada. O cavalo fará você atravessas as chamas de um vulcão e o gelo de uma geleira. E só depois, além do mar, você vai encontrar a montanha ensolarada e as fadas. Agora, se durante o percurso, você suspirar uma vez apenas, as chamas vão reduzi-lo a cinzas. Os pedaços de gelo da geleira vão quebrá-lo todo e as ondas do mar vão afogá-lo.
O filho mais velho recuou dois passos olhando para o caminho por onde tinha vindo.
– Se você não estiver disposto, não se esforce. Melhor voltar para casa. Eu vou lhe dar uma caixinha cheia de moedas de ouro para a sua caminhada.
– A senhora vai me dar, sem mais nem menos, essas moedas? Sem nada em troca?
– Sim! Assim por nada. Ou, se você quiser, para que você coma e não sinta fome.
– Hum... De fato, é verdade. Eu prefiro voltar pra casa. – Pegando as moedas de ouro e sumindo pelo mesmo caminho do qual tinha vindo. – Para uma pessoa apenas essas moedas são suficientes. Mas para quatro, são poucas. É melhor eu ir à cidade do que voltar pra casa. Vou viver como um senhor. – E tomou o caminho que levava à cidade.
Vendo, com o tempo, que o filho mais velho não voltava, um dia a mãe falou para o segundo filho:
– Seu irmão está viajando Deus sabe onde. Sem dúvida se esqueceu de nós. Vá, meu filho, vá ver se encontra meu belo quadro de pano.
O filho do meio calçou suas sandálias e se pôs a caminho. Andou um dia, uma semana, um mês e chegou à casinha de pedra. Viu o cavalo de pedra esticando o pescoço em direção aos morangos. A velha apareceu à porta, perguntando:
– Que bons ventos o trazem por aqui, meu filho?
– Estou procurando um quadro de pano que minha mãe teceu... O vento o levou.
– Seu irmão mais velho já passou por aqui, mas teve medo de reconquistar o quadro de pano, porque teria que atravessar chamas e geleiras montado naquele cavalo.
– Mas é um cavalo de pedra!
– Se você me deixar arrancar seus dentes com uma pedra, para implantá-los no cavalo ele reviverá. Comerá os morangos e poderá levá-lo até as fadas da montanha ensolarada que lhe irão devolver o quadro.
– Há! Era só o que me faltava! Deixar extrair meus dentes! Prefiro voltar pra casa!
– Neste caso, vou lhe dar um cofrezinho cheio de moedas de ouro. Seu irmão também as recebeu.
– Ah... Então foi por isso que meu irmão não voltou pra casa. E fez bem! Aproveitou melhor o seu dinheiro em outro lugar.
Então o irmão do meio pegou a caixinha com as moedas de ouro que lhe oferecia a velha e agradeceu educadamente, pensando em sumir o mais rapidamente de lá e ir direto à cidade.
– Ulula! Agora eu vou aproveitar a vida! Por que eu iria repartir com os meus irmãos?
Ao cabo de um mês a mãe chamou o caçula e lhe disse:
– Filho, me sinto fraca como uma mosca e se não encontrar o meu quadro, creio que não vou resistir por muito tempo mais. Meus dois filhos maiores devem estar passeando quem sabe onde! Sem dúvida se esqueceram de nós. Em você sempre tive mais confiança. Vá a procura de meu quadro!
O filho caçula calçou suas sandálias e partiu. Chegou ao desfiladeiro em frente a casinha de pedra e do cavalo de pedra com a cabeça esticada para os morangos. Na porta da casa se encontrava a velha que parecia esperar por ele. Ela o recebeu dizendo:
– O caminho que leva para o quadro de pano é difícil. Os seus irmãos maiores preferiram receber de mim uma caixinha com moedas de ouro e ir gastá-las na cidade.
– Eu não temo nada! Eu não preciso de ouro! As moedas de ouro não irão devolver a saúde à minha mãe. Mas que devo fazer eu para recuperar o quadro de pano?
A velha explicou ao caçula o caminho que atravessava as chamas e o gelo. Também lhe disse que poderia reanimar o cavalo se arrancasse os próprios dentes e os implantasse na boca do cavalo. Mal acabara de lhe dar esta explicação, o rapaz já tinha apanhado uma pedra, quebrando seus dentes e implantado na boca do cavalo. O cavalo se reanimou, comeu os morangos e o rapaz montou nele partindo imediatamente.
– Não se esqueça: não pode dar nenhum suspiro! Mesmo que as chamas estejam queimando você ou o gelo ferindo seu corpo se não você vai morrer.
Ofegante, o moço cavalgava cada vez mais para o interior do rochedo até chegar a um lugar cheio de chamas que saiam das entranhas da terra. As chamas o queimavam, mas ele não deu nenhum suspiro. Já estava achando que as chamas iriam acabar com ele, quando o cavalo deu um grande salto e eles foram parar num caminho bem estreito e bem sombrio. Incitando depois, de novo, o cavalo, para continuarem a corrida. Andaram assim por muito, muito tempo, até que o rapaz começou a sentir um ar gelado. Ao longe, ouvia-se um barulho estrondoso. Mas uma vez deu uma esporada no cavalo. Corriam como o vento quando de repente o caminho estreito entre as rochas se abriu. O cavalo parou de supetão. O rapaz começou a tremer de frio. Olhando em volta, até onde a vista podia alcançar, só se via gelo. Era uma imensa geleira com enormes icebergs ameaçadores que se chocavam com grande estrondo. Do outro lado da geleira, avistava-se bem longe, uma alta montanha verde.
– É a montanha ensolarada! Rápido cavalo! Estamos quase chegando!
O cavalo, sem hesitar, jogou-se nas ondas geladas. Aquele gelo movediço queimava e feria a pele do cavaleiro, mas o rapaz serrou a boca e não deixou nenhum suspiro escapar de seus lábios. Quando já estava quase se afogando, o cavalo conseguiu alcançar a margem. O bom sol secou as roupas, secou as feridas e, antes que ele pudesse compreender o que se passava, já se encontrava no topo da montanha.
Diante de seus olhos, brilhava um palácio de cristal e, vindos do jardim, ouviam-se risos e cantos de umas jovens. O rapaz entrou pelo portal de honra do pátio e apeou do cavalo. Viu à sua frente um grupo de belas moças ocupadas em tecer um pano. No meio delas encontrava-se o quadro de sua mãe. Ao perceberem o rapaz as moças abandonaram seus teares e vieram ao seu encontro, rindo. Uma delas, bem miudinha, com um vestido vermelho encantou-o particularmente. A seguir, uma bela dama aproximou-se do rapaz. Ela usava um vestido brilhante como os reflexos do sol no mar. Seus cabelos compridos estavam presos por um pente de ouro.
– Sou a rainha das fadas. Nunca ninguém vem aqui. Por que você empreendeu esta viagem tão cheia de perigos?
– Vim a procura do quadro de pano de minha mãe. O vento trouxe-o até vocês e minha mãe ficou doente por causa disso.
– Não foi por mero acaso que o vento levou o quadro de pano de sua mãe, fomos nós que ordenamos que ele fizesse isso. Queríamos nos servir dele como modelo para tecermos também um lindo quadro. Se você puder emprestá-lo por mais esta noite, amanhã poderá levar embora. Enquanto isso você é nosso hospede.
O rapaz parecia viver um sonho. As fadas o rodearam rindo e fizeram com que ele provasse o néctar e a ambrosia, como convém aos imortais. Logo em seguida continuaram seu trabalho. Ficaram tecendo a tarde toda. Ao cair o crepúsculo, suspenderam no teto uma pérola que brilhava na noite para poderem continuar tecendo até meia-noite. O rapaz estava esgotado de tantas emoções e adormeceu sem perceber. Enquanto isso, as fadinhas acabavam, uma após outra, seu trabalho no tear, indo se deitar. Somente a mais jovem ficou acordada, aquela que tinha agradado ao rapaz à primeira vista. Ela ficou olhando o quadro da mãe. Nenhuma fada tinha conseguido tecer um quadro tão lindo como aquele. Nenhum riacho brilhava tanto como aquele que tinha sido tecido com suas lágrimas e, nenhum sol queimava tanto quanto ao que fora tecido com as lágrimas do sangue dela. A jovem olhou o rapaz adormecido e teve uma idéia. Pegou um fio e bordou no quadro da mãe uma fadinha de vestido vermelho, em pé, perto do lago, olhando para os peixes vermelhos.
O rapaz acordou a meia-noite, a sala estava vazia. Só havia lá o quadro tecido por sua mãe. Ficou um pouco admirado e depois pensou:
– Por que esperar até amanhã? Minha mãe está doente e seu estado piora a cada dia.
Enrolou, pois, o pano, colocou o casaco, montou no cavalo e se pôs a caminho. Foi em vão que as ondas do mar lançaram nele os maiores gelos e que as chamas do vulcão tentaram engoli-lo. O rapaz não deu suspiro nenhum e, antes que pudesse se dar conta, estava na frente da casinha de pedra. A velinha já estava espiando sua chegada pela porta.
– Estou feliz de vê-lo de volta, rapaz. Você é um menino bom e valente. Você conseguiu o que queria. Vou devolver-lhe seus dentes.
Retirou os dentes do cavalo e os re-implantou na boca do rapaz. No mesmo instante, o cavalo virou pedra.
– Pegue estas sandálias de pele de cervo. Ao calçá-las você retornará à sua casa no mesmo instante.
O rapaz agradeceu muito a boa velha por sua ajuda, calçou as sandálias de pele de cervo e, sem saber como, foi parar na frente da casa onde tinha nascido. Uma vizinha aproximou-se ao vê-lo chegar. De cabeça baixa, disse a ele:
– É bom que você tenha voltado, ninguém sabe o que vai acontecer com a sua mãe. Não sai mais de casa e enxerga cada vez menos.
O rapaz entrou correndo em casa, gritando:
– Olhe mamãe! Olhe logo! – E mostrou o pano que tinha guardado em baixo do seu casaco. O quarto se iluminou todo quando ele desenrolou o brocado.
Mas a mãe não respondia. Desesperado, o rapaz a procurou pela casa até vê-la, deitada no chão. Abraçou muito forte seu corpo, deitou-a na cama e chorando, olhou para o quadro de pano. Nesse momento, como por mágica, a mãe despertou.
Quando ela percebeu que seu filho tinha trazido seu quadro de volta deu um grito de alegria, no mesmo instante estava curada. Pulou fora da cama, surpresa ao ver as forças lhe voltarem. Olhou para o quadro e, de repente, estava enxergando muito bem. Depois rogou ao filho:
– Leve o quadro para fora, filho, para eu poder vê-lo melhor.
O filho levou o quadro até a luz exterior e o desenrolou. As cores brilhavam. De repente, houve uma ventania e o quadro foi se desenrolando mais longe, cada vez mais longe, até cobrir toda a paisagem em volta. Tão longe quanto se podia enxergar viam-se campos de milho dourado, manadas de ovelhas, nuvens de pintinhos amarelos correndo por todo lado, no meio de patinhos. Um belo jardim atravessado por um riacho e as mais lindas flores. Tudo na natureza era como no quadro. Das casinhas prateadas saiam, agora, os vizinhos maravilhados, não acreditando no milagre.
O filho pegou a mãe pela mão e a levou para o jardim. Foram devagar em direção ao lago, não se cansando de ver tantas maravilhas. De repente, o rapaz parou estupefato, o coração batendo a mil por hora. Perto do lago estava a fadinha miudinha de vestido vermelho a lhe sorrir.
– De onde você vem?
A mocinha pôs-se a rir, piscando os olhos. – Eu me bordei no quadro de sua mãe e você me trouxe junto. Já que o brocado tomou vida, meu lugar também é aqui.
A mãe olhou muito feliz: – Temos agora uma grande casa, com uma filha que me fazia falta!
A fada olhou para o rapaz e se aproximou dela: – Você me aceita como esposo?
Ela respondeu que sim, com um leve sinal de cabeça. Houve uma grande festa de casamento. Além dos vizinhos, a mãe convidou os mendigos da região. Os irmãos maiores souberam de tudo. Já fazia muito tempo que haviam gasto todas as moedas de ouro e, como estavam acostumados a serem alimentados pelos outros, tornaram-se mendigos. Mas, quando chegaram na casa e viram as mudanças que ali aconteceram, tiveram vergonha de suas roupas esfarrapadas e preferiram não entrar. Foram embora, perdendo-se no mundo.
O caçula, ao lado da mulher fada e da mãe viveu feliz por muito tempo, numa região rica e ensolarada. E essa família nunca mais deixou de acreditar nos seus sonhos.